A LENDA DE JOSUÉ.

UM ASSASSINO SÁDICO

E LADRÃO DE TERRAS.

== 6ª. Parte ==

A CARNIFICINA 

SE EXPANDE 

para DELEITE do MÁGICO IAVÉ.

Desde que o mundo é mundo, um ditado existe e é considerado infalível o que é rezado: deus escreve certo por linhas tortas. E para nós, pobres mortais, nada é tão certo como gastar o nosso tempo, como sempre, em profundas lamúrias a nos destroçar sem dó e sem piedade.
Assim encontrava-se Josué depois do forçado acolhimento aos habitantes da cidade de Gabaon, como ficamos sabendo na postagem imediatamente anterior a esta.  Profundamente sorumbático por ter incorrido no erro de acreditar naqueles mentirosos maltrapilhos.  Nem o castigo que lhes impusera ao torná-los servos de Israel e pô-los a rachar lenha e carregar água para o altar do senhor o tirava daquela aguda prostração.
O estado letárgico em que se encontrava era tão profundo que Josué não se deu conta do espalhafatoso ESTRONDO de um trovão que se fez ocorrer a três ou quatro passos dos seus ouvidos.  Só quando o ribombo repetiu-se e desta feita tenebrosamente ameaçador foi que Josué levantou o olhar do chão, dirigiu-o a esmo para um naco de paisagem, e voltou a fitar o chão e sua aridez. 
Então sentiu um calor ao seu redor, um calor anômalo que o fez tremer como sob um frio intenso. Ao mesmo tempo, se deu conta da voz inconfundível do senhor seu deus.
--  Olá, meu amuado filho. Sou eu... that's me... c'est moi...
Josué respondeu, mas a seu malgrado: -- Fala!  
O Mágico Iavé fez de conta que não ouviu a aspereza da resposta, e continuou: -- Deixa eu dizer uma coisa, meu bom rapaz.  Essa gente que enganou você assim fizeram por indução minha.
Josué teve um sobressalto; empertigou-se, engoliu seco, e limpou com a ponta do dedo indicador o ouvido; supos não estar ouvindo direito.
-- O quê!?... Disse aos gritos. -- O senhor fez isso mesmo? Me fez passar por um perfeito idiota?
-- Claro!... Contra-argumentou serenamente o Mágico Iavé. E o fiz por um inilidível motivo. 
-- Me fez passar por um perfeito idiota, isso sim.
-- Mas você os castigou como eu faço com todos os que não seguem minhas normativas, certo?
-- Eu sigo suas normativas e o senhor me castigou, fazendo-me ser enganado por aqueles mentirosos...
-- Josué, você devia estar farto de saber, como todos estão, que meus desígnios são inescrutáveis -- disse o Mágico Iavé, procurando uma conciliação.   No entanto, Josué não dava o ar da graça e, pelo contrário, começou a soluçar. O senhor de Israel, foi se tornando roxo de raiva. Quando em um esforço supremo falou, não conseguiu disfarçar a ironia: ela era muito evidente.
 -- Josué, meu bom rapaz, seja homem, homem. Não me aborreça mais com essa choraminga. Certo, meu querido? E seja sempre animoso, varonil como eu o sou. 
Fazendo das tripas coração, o pobre homem Josué tentou falar alguma coisa, mas a voz não lhe saiu.  Foi o suficiente para o Mágico Iavé dar vazão seus notórios impulsos dissertativos, e numa tentativa de ser o mais didático possível.
-- Muito bem!... Pelos vistos, posso lhe expor algo de suma importância, não é?  Então, preste bem atenção!
 Nesse momento o rei de Jerusalém está convocando quatro reis vizinhos para, juntos, atacarem Gabaon por julgá-la indefesa; essa é a nossa oportunidade de atacar os cinco reinos, implacavelmente,  destruí-los e avançar,  um pouco mais, em direção à terra que tenho prometido, onde corre em abundância leite e mel. -- O Mágico Iavé, crendo que havia posto toda a sua dignidade divinal, portanto convincente, deu por encerrada a explanação. 
Josué coçou a cabeça. -- Sei não, meu senhor... São cinco reis! Cinco, eu disse! -- Abriu a palma da mão e a dirigiu para onde supunha vir a voz do Mágico Iavé. -- Cinco! -- repetiu -- Como vou derrotar a todos?
O sangue subiu à cara do senhor de Israel. -- Você quer duvidar de minhas idéias? -- disse o Mágico Iavé, em um tom colérico.
-- Não, meu amado senhor. -- respondeu Josué, suavizando o gesto da mão -- Claro que não, amado senhor. O meu senhor ordena;  eu o obedeço, cegamente.

-- Pois então, meu rapaz, junte seus homens e... mãos à obra! -- Disse o Mágico Iavé, e a expressão de sua cara NÃO ERA DE PENA, senão de indescritível GOZO. -- Sem mais delongas, Josué!... Sem mais delongas! -- Ainda disse, finalizando e recolhendo a voz por entre os montículos da terra árida.
    
       E foi esse, Caro Leitor, o encontro do senhor de Israel, o Mágico Iavé, com o servil Josué.  Claro está que os famigerados sacerdotes-escrevinhadores que     
rabiscaram páginas e mais páginas do  "livro",               

deram vazão às muitas historietas que ouviram ao longo dos anos de seus cativeiros; e as distorceram, evidentemente.  Como disse um célebre escritor de nosso tempo: Quem conta um conto aumenta sempre um ponto. 

     Vamos encarar as estúpidas balelas, então.   

Capítulo 10 (livro Josué / continuação)  

Reação dos poderosos ─

Versículo 1 -- Adonidec, rei de Jerusalém, soube que Josué havia tomado Hai e a destruíra pelo fogo; que havia tratado Hai e seu rei como fizera com Jericó e seu rei; e que os habitantes de Gabaon tinha feito aliança com Israel e viviam no meio dos israelitas.

Versículo 2 -- Adonisec ficou apavorado, pois Gabaon era uma cidade grande, como as cidades reais; era uma cidade muito maior do que Hai, e seus guerreiros eram todos valentes. 

Versículo 3 -- Então Adonisec, rei de Jerusalém, enviou mensageiros a Hoam, rei de Hebron; a Faram, rei de Jarmut; a Jáfia, rei de Laquis; e a Dabir, rei de Eglon:

Versículo 4 -- "Subam até aqui e me ajudem! Precisamos derrotar Gabaon, porque esta cidade fez aliança com Josué e os israelitas".

Versículo 5 -- Os cinco reis amorreus -- de Jerusalém, de Hebron, de Jarmut, de Laquis e de Eglon -- se reuniram, subiram com seus exércitos, cercaram e atacaram Gabaon.

Versículo 6 -- Os gabaonitas mandaram dizer a Josué, no acampamento de Guilgal: "Não abandones seus servos; venham depressa até aqui para nos salvar.  Ajude-nos, pois todos os reis amorreus que habitam na serra se reuniram contra nós". 

Versículo 7 -- Então Josué subiu de Guilgal, levando todo o pessoal de guerra e todos os guerreiros valentes.

Versículo 8 -- Iavé disse a Josué: "Não tenha medo deles, que eu os entregarei em suas mãos, e nenhum deles conseguirá opor resistência a você".

Versículo 9 -- Josué partiu de Guilgal e, depois de ter marchado a noite toda, atacou de surpresa os reis.

Versículo 10 -- Iavé dispersou os inimigos diante de Israel, causado-lhes uma grande derrota em Gabaon; e os perseguiu até o caminho da subida de Bet-Horon, derrotando-os até Azeca e Maceda.

Versículo 11 -- Enquanto eles estavam fugindo diante de Israel, na descida de Bet Horon, IAVÉ MANDOU DO CÉU UMA FORTE CHUVA DE PEDRAS GRANDES que matou os inimigos até Azeca. Morreu mais gente por causa da chuva de pedras do que pela espada dos israelitas. 

O grifo é nosso, Caro Leitor, para ressaltar a estupidez do relato bíblico. Absurdo maior ainda iremos ler quando Josué ORDENAR A PARALISAÇÃO DO SOL (!!!). Isso mesmo: A PARALISAÇÃO DO MOVIMENTO DO SOL.

Essa aberração, só redigida por boçais que fizeram vistas grossas ao conhecimento de astronomia dos babilônios, quando dos seus cativeiros naquela região,
é uma afronta à ciência. 
Isso ocorreu em uma época distante. Concebamos a aceitação desse paradigma nos dias atuais por centenas de milhares de fanáticos protestantes -- os autodenominados evangélicos?

A "PARALISAÇÃO" DO SOL POR JOSUÉ,  DE TÃO ESDRÚXULA,  FICARÁ PARA NOSSA PRÓXIMA POSTAGEM.